segunda-feira, 14 de abril de 2008

Nós que escrevemos para pirraçar a morte


Nos que escrevemos para pirraçar a morte
Escrevemos a noite.
De dia andamos..
Esses caminhos para os quais nos atrai a luz
Descrevemos suas ausências a noite.
São sorrisos que não vimos
Cheiros, carmins, texturas de areia escura
São tantas coisas que faltam ao dia.
Percebi um dia – no futuro:
Que nós que escrevemos a noite para pirraçar a morte
E que de dia andamos – estamos impregnados
De recolhimentos e crenças.
A morte tinha plantado cada ausência ao longo do caminho diurno.
Descobri que não fazia parte
Embora fosse parte.
Desatinei e pari a mim mesmo um ausente
E escrevi de dia enquanto caminhava descrevendo brisas
E escrevi a noite enquanto sonhava.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Nossos Amores


Assim são esses nossos amores
Uma busca de fragmentos meus e seus em outros corpos
Essa é nossa felicidade e nosso desespero.
Eu, encontrar teu gosto em outra boca
Você, encontrar meu cheiro em outro peito
Esse lugar que criamos e onde somos diariamente felizes
Esse lugar está em chamas com a nossa partida.

Gosto de Amaranto


Sim, tudo é possível.
É possível todas as coisas - como coisas uma só: singular.
É possível esse gosto de amaranto quando lembro desse sonho recorrente secando minhas lágrimas.
É possível esse sóbrio meu agir, infinito agir de forma diferente a cada gota de vinho.
Eu carregando sementes como amuletos vermelhos colorindo meus dedos e meu rosto suado, procurando você em baixo de pedras, por traz de arbustos e vendo seus sinais em tudo.
A natureza ri de mim, ri da parte dela que perdeu o juízo.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Olhar de Cecilia


Abro meus olhos
vejo teu perfume e tua ausência
vejo as pegadas da sua partida
as marcas de seu sorriso no meu peito.

fecho meus olhos

abro meus olhos uma segunda vez
Voce me observa - desafiadora
está sem roupa e sem medo

fecho meus olhos

abro meus olhos uma terceira vez
e vejo Cecília.

domingo, 23 de março de 2008

De Tarde


De tarde eu sinto saudades
de algo que nem sei
mas que aperta meu peito
toda noite eu falo com você

meus desejos secretos te conto
porque de mim pra ti, nada escondo
faço tudo pra te deixar a par
de tudo o que eu fizer
e assim quem sabe um dia eu...

acerto
podendo vencer meus medos
que ainda trago no peito
estou tentando melhorar
espero um dia ser...

eles julgam
minha causa perdida
conheço bem minhas feridas
de onde vieram
procuro melhorar
e assim quem sabe um dia eu...

acerto...

de tarde,
quando aperta meu peito
eu conto tudo pra você,
tudo pra você

de tarde....

quinta-feira, 6 de março de 2008

Antes que Doa



Antes que doa,
Preciso vestir meus sentimentos
Eles foram despidos dia a dia - de palavra em palavra até estarem nus.
Antes que doa,
Preciso reaprender o medo: esse arame farpado que mantém as
Paixões, a tempestade e toda inquietude lá fora.
Antes que doa,
Preciso parar de rir sem motivo.
Antes que doa,
Eu vou catar pedaços de sonhos,
Capturar os aromas,
Cobrir espelhos e fechar o chuveiro na bagunça do meu Coração.
Antes que doa,
Preciso ter coragem,
Porque a vida é feita de passagens.


terça-feira, 6 de novembro de 2007


Nem tudo foi essa ausência: pintei pela manhã meu retrato com carvão e folhas - lobo preguiçoso escondido no subsolo das florestas. Nem sempre fui eu como me contam e isso também ninguém quer saber. Lembro-me, quando chamei por Deus: Ei Deus! quero contar e ele me interrompendo as gargalhadas - pra que?, já sei!
Então... não ocupo mais ninguém com minhas primaveras laranjas
me recrio através de lindos amigos - em folhas, telas, blogs, hipertextos...
eu volto....


domingo, 30 de setembro de 2007

Indo para outro lugar

Sou tranqüilo em meus pensamentos
Vivo rindo mas pouco transparecendo

Não sou de estar aqui, acolá
Mas sei onde ficar antes de tudo acabar

Quando olho
nem sempre vejo
Finjo não saber aquilo que mais desejo

Quando paro no barulho
Acabo escutando o silêncio de meu orgulho

E no final enxergo com naturalidade
A única coisa que me deixa na saudade

Mais uma vez me despeço s
em dispensar
Adeus, estou indo pa
ra outro lugar

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ele

A mim, só cabe sentir. E sinto a cada momento, mas sinto em cada momento um sentimento diferente, as vezes, o mais confuso deles, outrora, o mais sublime, aquele que arrebata em fração de segundos. Sou parte deles, e eles de mim.

Assim, caminho sem rumo. E mesmo que não o procure, ele me encontra, me encanta. Temo, mas me pertenço, me permito!


sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Eu


Eu não sou o vento, não sou o ar em movimento. Sou a fusão do vento e do metal, sou o som que ecoa do mensageiro dos ventos quando a chuva se aproxima, quando a noite precipita. Sou a fusão, sempre a fusão. Hoje irrequieta, porque incompleta em um de meus elementos. Sem o vento, não há tilinte. Sem metal, há tato. Sem meu complemento, não há o que chamo de eu. Há pedaços de mim, num universo restrito (e) particular. Clamo a completude. Exijo completude. Isso, minha natureza não há de negar. Vinde a mim, pois, sonhos, átomos, seres, sentimentos, ações, intenções, lirismo e rebeldia. Faz me mim a mesma e conhecida poesia que na boca de todos passeia. Que tudo alegra e transforma. Faz de mim o pão da alma. E serve, deste mesmo pão, natureza divina, a meu elemento rei, que não tarda a me encontrar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O Sonho

Fui várias vezes semente. Em todas as minhas vidas eu sempre fui semente. O fato de ser essa árvore: frondosa e forte, só é possível porque eu fui semente. Fui mãe de mim mesma muitas vezes e me multipliquei por esse bosque até ser eu mesma e muitos lugares. Sou centenas e sou parte da semente original que sou eu mesma.

Estou sendo redundante, porque sonhei com uma mulher ontem.

No meu sonho, ela falava a língua das árvores e não usava aquela manifestação barulhenta que os humanos costumam usar quando querem falar uns com os outros ou quando querem falar de nós, árvores.

Essa mulher com quem sonhei, tinha vindo a minha floresta me contar uma estória sobre seus pés. Que diferente de mim, ela podia andar pelo mundo, ver coisas e ser vista em lugares. Ela me disse que não estava presa ao chão como minhas raízes e me falava: das maravilhas que se pode encontrar a cada passo. De como é belo a mudança de cenário e quão maravilhoso era poder contemplar tudo a sua volta. A cada passo uma descoberta, um novo sentimento, alguns desses encantador, outrora nem tanto. Ainda assim, momentos únicos, cada qual com sua história.

Desconfiei da mulher. Afinal - humanos não tem raízes. Como podia ela saber isso tudo tendo estado em movimento toda uma vida? Nós árvores, sim - p
odemos contemplar mudanças de cenários, receber ventos variados e perceber o encanto do passar do tempo. Aquela mulher no sonho de alguma forma me comovia, apesar de ser humana, tinha uma natureza vegetal, um certo som de folhas ao vento vinham do cabelo dela. Pedi que sentasse em um de meus galhos e me contasse sobre o que ela ouvia quando fechava os olhos. Ela me disse que: tudo se transformava em uma sinfonia, de forma que o ambiente também interferia. As vezes nada ouvia, mas em sua maioria sempre existia uma trilha sonora na qual se permitia viajar a rumos distantes, assim como eu, sem mover as raízes do chão.

Acreditei nela: afinal eu sempre ouvia as estórias que minhas sementes traziam em seus corações sobre lugares estranhos. A mulher abraçou meu tronco e me contou uma estória sobre um sonho que teve: nesse sonho ela era uma árvore amarela, com folhas pequenas e finas, muitos galhos e flores vermelhas que tinham cheiro de nuvens. Ela me contou que: quando acordou, sentiu-se mais leve, e desejou ser uma árvore. Isso, porque se encantou com a pureza de seu ser, e mais, poder ouvir e sentir de perto os pássaros em seus galhos, como se cantassem só pra ela. Uma orquestra, exclusiva, como uma forma de agradecimento por oferecer os seus galhos como base para seus ninhos. Pode acompanhar o nascer do mundo para um jovem pássaro, como era belo senti-lo de perto e poder admirar o bater de suas asas. Isso sem mencionar o espetáculo que ela presenciara ao amanhecer, como se o sol, viesse só pra ela, só pra iluminar o seu dia... e o vento, ah o vento, como era mágico esse momento, seus galhos pareciam dançar, o vento os conduzia, suas flores também entravam na dança com movimentos suaves, entrava em êxtase ao sentir o seu toque, se pudesse parar no tempo, escolheria esse minuto para ser eternizado. E as manhãs de verão, a água da chuva escorrendo sobre seu caule, galhos, folhas e flores. Os dias pareciam ser pequenos, havia tantas coisas para observar e sentir que as horas lhe eram poucas. Contudo contou-me também de suas imperfeições que se revelaram quando o cenário do inverno levou suas folhas, ainda que esta seja o pior momento de nossa existência é essencial para que nossas raízes se aprofundem nos tornando mais forte, e por fim mencionou a minha importância.

Descobri que as coisas, que todas as coisas, inclusive as coisas que nunca vi ou sobre as quais não me falou o vento ou me deu noticias a chuva: essas coisas sempre existiram. O seu sorriso sempre esteve lá, mesmo antes que eu o visse no sonho, sua essência já era permanente.

Aquela mulher do Sonho, já existia mesmo antes que qualquer uma de minhas milenares sementes a tivessem percebido. Fui uma semente secular sábia, sou u
ma árvore sábia e minhas sementes herdarão essa percepção de minha ignorância, porém, a mulher do sonho, que pensava me sonhar - essa mulher me confundiu.

Por alguns instantes tudo se mostrava adverso, o fato de me sentir desconsertada causava a impressão de insegurança que outrora não existia, a realidade era que minha mente mergulhava em outra dimensão, isso fez-me pensar no sobrenatural, no mais oculto e profundo sentido de ser. Os mistérios se revelavam, contudo não me era suficiente saber, pois sei que sempre posso ir além e alcançar fronteiras jamais sonhadas pela raça humana e assim jamais lamentar a ausência de atingir a supremacia desejada por mui
tos.

Foram essas coisas que principiaram minha visão: Tenho esse perfume que a menina no sonho me deu para que eu visse o mundo dela. Por esse perfume eu não fui árvore, também não fui mulher ou pássaro... fui uma essência de natureza carregada pelo vento a todos os lugares. Estive em ventres, em cavernas, na mesa dos homens, na cama de amantes, nos bares, nos lares, no fogo, afogado com os peixes e suas escamas vermelhas. Assim, mesmo com minhas raízes presa ao chão. Pude então compreender melhor a mulher.

A menina me falou de um jardim mágico onde algumas sensações,
que a árvore nunca havia experimentado poderiam ser reais. Ela falou com a árvore do gosto da sua pele, do calor do sangue correndo mais rápido pelo seu corpo. Para a árvore não fazia sentido. Como árvore só lhe fazia sentido a semente, o vento, a chuva, o sol e mesmo o toque mais carinhoso não lhe fervia a seiva. A menina mordeu o tronco da árvore, e pela primeira vez a árvore teve uma experiência humana: era como se ela tivesse sido mordida nas costas de um homem - um misto de dor e desejo correu por todos seus galhos e a menina riu. Voltou a morder, dessa vez em seu pescoço e logo em seguida lambeu a mordida. Tudo era novo e tudo era confuso para a árvore. A menina então sonhou no sonho da árvore um corpo de homem e foi implacável em cada gesto, ela queria que a árvore conhecesse o suor do prazer e lhe deu na boca cada centímetro de seu corpo, cada gota de tudo, cada sussurro, cada gemido, seu cabelo, sua boca, seu cheiro, seu sexo, sua presença molhada e viva.

Mesmo nas noites de chuva forte, em que o vento forçava a árv
ore a se abraçar a outras árvores, mesmo nessas noites tudo era contentamento. A natureza nunca privou a árvore de nenhum de seus momentos e nenhum de seus humores. No sonho, a menina falou de abrigos, onde a chuva nunca entrava mas a árvore não entendeu.

Mesmo depois de provar sentimentos, desejos, gestos, olhares, gostos, cheiro... ainda assim não era suficiente, pois a árvore, ainda não compreendia a essência da m
enina. Seu olhar, e seus sorrisos ainda eram mistérios, desse modo, a árvore ficava intrigada. Afinal, não imaginava quantas coisas ainda desconhecia, e agora sim, tinha certeza, ainda havia muitas coisas a serem apresentadas.

Para onde se move tanta coisa? O que seguem? Não está tudo aqui, agora e definitivamente como todo o oceano está na gosta? Como árvore, nunca quis ter ol
hos - não necessito ver uma estória que acontece sempre da mesma forma com outros atores. Que fonte inesgotável de indecisão é essa que procura respostas. Não há respostas... Enfim... o que ainda espero de minhas sementes além de mais e mais noticias? De onde veio essa menina que está andando no meu sonho falando de coisas tão frescas como a relva? Sobre o que ela fala?

E de repente, tudo ficou confuso. Já não parecia um sonho, e já não desejava mais acordar. Não compreendia essa menina, mas de fato, sua presença me alegrava, acho que era o cheiro que vinha dos seus cabelos, ou o seu olhar seguro e ao mesmo tempo inocente, talvez fosse a sua voz; bem, não sei ao certo o que era, só sei que me encantava.

E como se isso não fosse possível continuava o meu deslumbramento.. que menina seria essa?! Mas, era chegado a hora de partir

Então vamos, menina dos sonhos: pega o teu caminho que eu pegarei o meu, leva essas coisa minhas contigo: esses sonhos, um pouco de medo, minhas sandálias
do caminho de santiago, minha gargalhada pra te acordar, alguns de meus cachorros e metade da minha coragem. Eu levo de ti, essa paz, um pedaço de pão de queijo, uns bombons pra noites de lua cheia e metade da tua coragem... não levo teus medos porque não os tem...
Então vamos árvore do sonho, e deixo contigo esse guardanapo de seda com minha boca marcado pelo meu baton.


Quando me virei via as asas da menina: nada de anjo, nada de pássaro - asas de mulher e isso me surpreendeu.Em todas minhas milhares de vidas vi todas as asas: as de anjos fazendo a travessia, as de pássaros levando sementes. As de mulheres, as vi muitas vezes porem nunca numa menina.Porque ela encontrou suas asas tão cedo?porque tanta pressa em ser feliz já que esse vôo tem sempre o medo como companheiro?Mas vi a menina com suas asas de mulher, a natureza sabe o que faz.

Sempre sabe!